Embora nas três internações anteriores – num período de pouco mais de um ano – tivessem existido alucinações como consequência do “tratamento da beladona”– o tratamento oferecido pelo Towns Hospital, em Nova York, para a “cura” do alcoolismo, foi na quarta internação ocorrida entre os dias 11 e 18 de dezembro de 1934, que, passadas as primeiras 50 horas do tratamento, isto é, do segundo para o terceiro dia, que Bill W. teve uma experiência diferente. Nas suas palavras, a partir de uma profunda depressão e chegando ao ponto de total esvaziamento, entrou num estado de rendição completa e absoluta. Sem nenhuma fé ou esperança, ele gritou: “Se existe um Deus, que Ele se manifeste! Estou pronto para fazer qualquer coisa, qualquer coisa!”.
Então teve aquele “hot flash”, ou estalo, que ele assim descreveu: “De repente o quarto se encheu de uma forte luz. Mergulhei num êxtase, que não há palavras para descrevê-lo. Pareceu-me, com os olhos de minha mente, que eu estava numa montanha e que soprava um vento, não de ar, mas de espírito. E então tive a sensação de que era um homem livre. Lentamente o êxtase passou. Eu estava deitado na cama, mas agora por instantes me encontrava em outro mundo, um mundo novo de conscientização. Ao meu redor e dentro de mim, havia uma maravilhosa sensação de presença e pensei comigo mesmo: ‘Então esse é o Deus dos pregadores!’. Uma grande paz tomou conta de mim e pensei: ‘Não importa quão erradas as coisas pareçam ser, elas ainda são certas. As coisas são certas com Deus e Seu mundo’” –último parágrafo da página 56 do livro “A.A. Atinge a Maioridade” –Junaab, código 112.
Pouco depois dessa “viagem ao topo da montanha”, Bill chamou o médico e perguntou: “Estou ficando louco?”. De acordo com Dale Mitchell, biógrafo de Bill, o Dr. Silkworth poderia ter advertido ao paciente que o tratamento com beladona que ele estava recebendo“… era susceptível de causar imagens vibrantes, confusão mental e produzir alucinações daquele tipo”. Isso é o que qualquer médico provavelmente teria feito. Mas, não apenas como médico, mas também como um homem humilde que acreditava que as coisas acontecem por uma razão e que os motivos de seu sucesso muitas vezes são obscuros para nós, o Dr. Silkworth escolheu outro caminho – um caminho pelo qual todos nós AAs devemos ser eternamente gratos a este “pequeno doutor que amava os alcoólicos“. Ele disse a Bill que ele não estava ficando louco e que“… seja o que for que tenha tido, é melhor se apoiar nisso; isso é muito melhor do que você tinha há somente algumas horas atrás”.
Nas próximas horas foi visitado por Ebby T. que não entendeu absolutamente nada do que tinha ocorrido, mas entregou a Bill um livro presenteado por Rowland Hazard um membro do Grupo de Oxford, como Ebby, que oferecia esclarecimentos adicionais àquela experiência: “As Variedades da Experiência Religiosa”, do filósofo e pai da psicologia americana e do conceito do Pragmatismo, William James cujo pensamento viria fazer parte do programa de A.A.
Mais tarde, ao ler esse livro levado por Ebby, Bill entendeu que lhe teria acontecido o que William James descrevia como “despertar espiritual”, ou “experiência espiritual”, expressão esta, que viria fazer parte de seus futuros depoimentos e palestras, e do vocabulário de grande parte dos membros de A.A.
Anos mais tarde, Bill W. afirmou que, se o Dr. Silkworth tivesse desencorajado sua nova relação com o “mundo do espírito”, duvidava que fosse recuperar-se.
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