Quando a mudança e o crescimento acontecem pelas mãos e pelo entusiasmo dos recém-chegados.
Sempre me vi como uma pessoa aberta para o mundo. Certo é que o álcool sempre me acompanhou, até passar a ser um problema na minha vida e da minha família. Participei das mais variadas religiões, mas nunca consegui controlar meu alcoolismo. Entretanto, Alcoólicos Anônimos salvou-me. Minha mãe, intrigada, passou a repetir: vou descobrir o mistério de A.A.; como é que conseguiram fazer você parar de beber?
Eu estava bebendo muito. Trabalhava na direção de uma escola, como concursada, e bebia toda tarde. Certo dia, a Secretária de Educação chamou-me e disse-me: você sabe que está bebendo demais. Sei que é competente e responsável, mas precisa mudar, não dá para sair da escola e ir direto para o bar. Não pode continuar bebendo assim! O que prefere: ir para uma clínica ou assistir reunião de Alcoólicos Anônimos?
Eu estava errada e sabia que a Secretária estava falando sério. Mesmo concursada, um vacilo meu naquele momento poderia acarretar problemas. Preferi ir para A.A., pois tenho fobia de lugares fechados e não conseguiria ficar numa clínica. A Secretária pediu que uma professora me acompanhasse, numa noite de quarta-feira, à única reunião semanal do Grupo de A.A. Renascer, em Camaçari (BA). Ao mesmo tempo, transferiu-me para o gabinete da Secretária de Ensino, afastando-me do convívio alcoólico em meu bairro e com marcação cerrada sobre minha frequência às reuniões de A.A.
Logo identifiquei-me com os companheiros, com as reuniões, com o programa de A.A. e com o serviço do grupo. Encontrei colegas de trabalho participando de A.A. e passamos a conversar sobre a programação da irmandade. Então, um companheiro disse-me: você que gosta de ler, veja, esta é a Revista Vivência. Se quiser acompanhar-nos, no domingo haverá reunião do Distrito. Eu não fazia ideia de que se tratava, mas fui conhecer o tal distrito – e encantei-me.
Passei a interessar-me pela literatura. No me de janeiro de 2000, houve vários ingressos em nosso grupo e os novos – eu incluída – passamos a nos reunir no trabalho, para discutir novas ideias. Ficávamos até depois do horário estudando a literatura de A.A., que tanto nos encantava. Logo percebemos que seria melhor reunirmo-nos no grupo, pois tínhamos noite livres e lá seria mais tranquilo para partilharmos leituras e o que cada um tinha entendido dos livros. Assim fizemos.
No Distrito, conhecemos outros grupos, participamos de encontros de estudos e eventos fora da cidade, como o Seminário Nordeste e a Convenção Nacional. Minha recuperação tornou-se muito mais rica.
Quanto ao grupo, quando ingressei tinha apenas uma reunião semanal, às quartas-feiras, mas, logo depois dos novos ingressos, passamos a fazer reuniões também aos sábados.
Em março de 2000, nós, recém-chegados, demonstramos interesse em fazer reunião de literatura. Assim, mesmo com posição contrária de alguns veteranos, começamos a discutir essa ideia nas reuniões de serviço.
Três meses depois, após uma maravilhosa participação na Convenção Nacional, já tínhamos reuniões todos os dias. Às segundas-feiras, estudamos os Doze Conceitos, às terças, fazemos debates a partir de temas sorteados, como uma oficina, onde falamos sobre princípios tirados do Reflexões Diárias, Na Opinião do Bill, ou sobre despertar espiritual – com as cadeiras em círculo. Às quartas e sábados, fazemos reuniões de depoimentos, com as cadeiras em fila. Às quintas e sextas, realizamos estudos, mas sempre deixando claro que todas as reuniões são de recuperação.
Todas essas mudanças foram discutidas e decididas nas reuniões de serviço. Hoje, permanecemos apadrinhando os novos, incentivando-os a participarem para compreender as reuniões do distrito, pois o programa de A.A. inclui muito mais do que apenas parar de beber. A revista Vivência está sempre presente nas discussões do grupo. Funcionamos em um local alugado, autossuficiente. Para mim, ainda não é o espaço ideal, mas a mudança de imóvel será nosso próximo desafio, sempre procurando agregar a participação de todos, novatos e veteranos.
Sabemos que o apadrinhamento inicial e fundamental, por isso, logo na entrada da nossa sala de reuniões, está afixado um banner contendo o organograma de toda a estrutura da Irmandade no Brasil, desde o grupo até a Junta de Serviços Gerais de A.A. do Brasil, JUNAAB. Ao lado, fica uma mesa expondo toda a nossa literatura, que pode ser manuseada e emprestada para leitura. Sempre conscientizamos sobre a necessidade da prática da Sétima Tradição, para que continuemos contribuindo com nossos órgãos de serviço.
Propostas novas estão sempre surgindo, pois fazemos inventário periódico do grupo, examinando o que melhorou, o que não foi possível realizar e o porquê. Buscamos o que pode ajudar o grupo a crescer um pouco mais e, na verdade, tudo isso mantém a interação dos companheiros entre si, com nossa literatura e princípios, propiciando, também, que todos tenham oportunidades para avançar em sua recuperação individual, integrada ao crescimento da Irmandade.
Sandra, BA