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William G. Wilson (Bill W.) (1895 -1971)

Edição especial do Box 4-5-9, Fev. 1971 (pág. 1 a 6)

Título original: “En memoria de nuestro querido Bill”

Bill W. morreu no dia 24 de janeiro de 1971 no Miami Heart Institute, Miami Beach, Florida, EUA, depois de uma longa doença. Estava em tratamento de enfisema pulmonar desde 1968. Tinha 75 anos de idade.

De acordo com os próprios desejos de Bill, depois dos serviços funerários privados, queria ser enterrado em East Dorset, Vermont, onde tinha nascido em 26 de novembro de 1895.

No dia 14 de fevereiro de 1971 os Grupos de A.A. do mundo todo realizaram reuniões em memoria e em honra ao trabalho de Bill, cofundador de Alcoólicos Anônimos , autor de seus livros básicos de A.A. e arquiteto dos princípios da nossa Irmandade.

Última aparição pública

Bill apareceu pela última vez na reunião de encerramento da Convenção Internacional do 35º Aniversário de A.A. no dia cinco de julho de 1970 no Salão de Convenções de Miami Beach.

Nesse domingo, de manhã, um homenzinho magro, de cabelo branco, com aparência cansada e vestindo um paletó de cor laranja fez uma saudação especial aos AAs do Estado anfitrião.

Ao ficar em pé, com muito esforço, uma multidão de 11.000 homens, mulheres e crianças levantou-se para aplaudi-lo alegremente. Muitos choraram.

Tinham-se passado muitas 24 horas desde que Bill tinha tomado parte do conteúdo de uma garrafa de gim na cerca do Hospital Towns em Nova York.

Último gole

Esse foi seu último gole; era o dia 11 de dezembro de 1934. Aconteceu pouco tempo depois que Ebby T., um velho amigo com quem Bill bebia, o visitou na sua casa, na Rua Clinton no Brooklin, Nova York, onde ele estava sem trabalho, como um bêbado sem esperança, sustentado pela sua mulher Lois. Ebby tinha deixado de beber depois de se afiliar ao Grupo de Oxford, um movimento religioso muito na moda à época. No Hospital Towns, Bill teve a experiência espiritual que lhe retirou o desejo de beber e o preparou para ajudar a persuadir outros bêbados a parar de beber.

Seus esforços não tiveram sucesso até maio de 1935, quando estava hospedado no Hotel Mayflower, em Akron, Ohio, e já se encontrava na iminência de beber depois de um fracasso no negócio que o tinha levado lá.
De repente percebeu que os esforços que tinha feito em Nova York para que outros bêbados encontrassem a sobriedade tinham sido estéreis; mas, com isso, ele continuava sóbrio já havia quase cinco meses. Desta maneira, em vez de ir ao bar, Bill começou a fazer chamadas telefônicas na tentativa de encontrar um alcoólico a quem pudesse ajudar, porque se tinha convencido de que, mesmo o outro, o ouvindo ou não, iria impedir que ele tomasse aquele trago. Pela primeira vez, foi motivado pela própria sobrevivência.

Como resultado dessas chamadas, na casa de entrada da mansão da família Seiberling, acabou conhecendo Robert. H. Smith – o Dr. Bob, um cirurgião também afligido pelo alcoolismo.

Este encontro dos dois, que mais tarde seriam conhecidos como os cofundadores de Alcoólicos Anônimos , de certa maneira representa a primeira reunião realizada pelo “primeiro Grupo de A.A.”. Foi o inicio da recuperação do Dr. Bob, que trabalhando na área da medicina, especializou-se no tratamento de alcoólicos nos hospitais em que trabalhou.

Animado pelo Dr. Bob, depois disso, Bill dedicou todo seu tempo a A.A. a qual teve um crescimento contínuo alcançando aproximadamente 475.000 membros que se reúnem em 16.000 Grupos em 90 países (N.T.: em 1971).

Em 1937, os cofundadores contabilizaram aproximadamente 40 pessoas que tinham sido considerados bêbados irrecuperáveis e estavam conseguindo manterem-se sóbrios em dois pequenos grupos sem nome em Akron e Nova York. Então persuadiram estes primeiros membros a escrever a história de suas experiências para que pudessem ser usadas por outros alcoólicos – em outros lugares e em quaisquer tempos.

O resultado foi o livro “Alcoólicos Anônimos ” (Junaab, código 102), publicado pela primeira vez em 1939. Pouco tempo depois, o movimento passou a ser conhecido pelo mesmo nome do livro. Bill escreveu os primeiros onze capítulos do livro e os famosos “Doze Passos sugeridos como Programa Recuperação”. Depois descreveu a Recuperação como sendo o Primeiro Legado dos primeiros membros para todos nós.

Nos próximos anos multiplicaram-se com rapidez as experiências e os Grupos de A.A. nos EUA e Bill percebeu que outras ideias básicas de A.A. e outros procedimentos, além dos que existiam nos Doze Passos, precisavam ser desenvolvidos.

Assim, em 1945, escreveu para a revista Grapevine os “Doze Pontos para assegurar o futuro de A.A.” que mais tarde se converteriam nas “Doze Tradições de A.A.”, aceitas pela Irmandade na Primeira Convenção Internacional, na cidade de Cleveland, Ohio, em 1950, ano em que morreu o Dr. Bob.

Bill descreve estas Tradições como o Legado da Unidade – o Segundo Legado, entregue pelos fundadores da A.A. aos seus futuros membros. Foram tratadas com mais profundidade no livro “Os Doze Passos e as Doze Tradições” (Junaab, código 105), publicado em 1952.

A propriedade dos livros do movimento e a administração do Escritório Central – Atual Escritório de Serviços Gerais, ESG, em Nova York foi delegada a uma Junta incorporada não comercial. Entre os membros Custódios da Junta (todos voluntários) a maioria era de homens não alcoólicos destacados no setor de negócios e no campo profissional, mas a Junta tinha pouco contato com os membros e os Grupos de A.A.

Para sanar isso, Bill propôs que uma Conferência de Serviços Gerais composta por Delegados eleitos pelos Grupos de A.A. dos EUA e Canadá se reunissem uma vez por ano servindo como uma ponte entre a Irmandade e a Junta.

Na segunda Convenção Internacional (Saint Louis, Missouri, 1955), a Conferência foi aceita pela Irmandade como sucessora de Bill, do Dr. Bob e dos outros pioneiros de A.A. Através da Conferência, a Junta de Serviços Gerais de A.A. é a responsável administração da Irmandade.

No livro “A.A. Atinge a Maioridade” (Junaab, código 101) publicado em 1956, Bill descreve este evento numa breve história sobre os primeiros anos de A.A.

Em 1966 a Conferência mudou a relação de alcoólicos e não alcoólicos na Junta de Serviços Gerais, dando lugar a uma Junta composta por 21 Custódios, sendo 14 alcoólicos e sete não alcoólicos. Isto significou para Bill a aceitação do Terceiro Legado pelos membros fundadores e não apenas a responsabilidade de servir aos alcoólicos, mas também a responsabilidade pelo futuro da Irmandade.

No último livro “Na Opinião de Bill – O modo de vida de A.A.” (Junaab, código 112), publicado em 1967, Bill retomou as inquietações espirituais que desde 1934 haviam constituído a base da sua própria vida pessoal. Trata-se de um resumo, que pode ser lido diariamente, de uma parte da ajuda que ele deu a outros alcoólicos em milhares de visitas e na correspondência. Provavelmente milhares de AAs guardam as melhores lembranças de Bill como orador nas Conferências Internacionais realizadas a cada cinco anos. Cleveland, 1950, St. Lois, Missouri 1955, Long Beach, Califórnia 1960, Toronto, Canadá 1965 e Miami Beach, Florida 1970.

Milhares de alcoólicos ficavam fascinados enquanto ele repetia a história do começo de A.A.

Durante a primeira Reunião de Serviço Mundial em 1969, foi talvez a ocasião em que melhor contou essa história.

Havia 27 Delegados de 15 países entre os 3.500 convidados, quando Bill disse que A.A. tinha começado no consultório do Dr. Carl Jung, um dos criadores da psicanálise e da psiquiatria moderna em Zurique, Suíça, que estava tratando um alcoólico norte-americano chamado Rowland em 1930. Rowland compartilhou suas experiências com Ebby T., que era amigo de farras de Bill e que acabou por levar-lhe a mensagem de recuperação quase no final do ano de 1934 no Brooklin, Nova York.

Declinou de honras públicas

Em conformidade com as Tradições, Bill recusou honras conferidas a ele pelo seu trabalho em A.A. Estas honras incluíram um título honorífico de Doutor em Leis, um filme sobre sua vida e um artigo na revista Time com sua fotografia na capa.

Bill nunca perdeu totalmente o sotaque de Vermont, o qual acrescentava certa malícia às histórias que ele contava de si próprio. Durante seus últimos meses de vida, com a saúde muito agravada, contava a quem o visitava na sua casa “Stepping Stones”, em Belford Hills, Nova York, a respeito de seus planos de voltar às atividades de negócios em Wall Street.

Em um dia de 1962, depois de uma semi-aposentadoria na liderança ativa em A.A., aguardando no aeroporto encontrou um velho amigo de negócios. Entre alegres e surpresos reconheceram-se um ao outro. O amigo disse “Bill, por onde você tem andado?” Bill sentiu-se um pouco molesto porque o outro não soubesse e disse “Eu acreditava que todo mundo soubesse que eu era o bêbado número um de A.A.”; decidiu deixar que o homem percebesse que ele tinha sido o fundador e perguntou: “Você ouviu alguma vez falar de Alcoólicos Anônimos ?” “É claro que sim”, disse o velho amigo “alegra-me muito que finalmente tenha ingressado em A.A. Gostaria de trabalhar comigo outra vez?”. E Bill foi trabalhar com ele outra vez.

Com essa atitude sinalizou que ele estava fazendo o que sempre falava para os outros fazerem, isto é, que não dedicassem seu tempo integralmente a A.A.; que voltassem ao exercício das suas profissões, mas mantendo a mente em A.A. Entretanto, ele não tinha feito isso até se encontrar com seu velho amigo de Wall Street.

Bill pronunciou uma palestra no Centro de Estudos sobre o Álcool na Universidade de Yale. Foi um dos primeiros diretores do Conselho Nacional de Alcoolismo. Dirigiu-se à Associação de Psiquiatria Norte-americana e a outras associações de médicos e contribuiu com vários livros não A.A. sobre alcoolismo.

Em 1968 participou do Congresso Nacional sobre Álcool e Alcoolismo em Washington, D.C., e em 1969 depôs perante um subcomitê do Senado que estava estudando o problema do alcoolismo.

Bill foi um dos primeiros e mais ardentes incentivadores dos Grupos Familiares Al-Anon. Dizia que eram “uma das coisas mais importantes que aconteceram desde o começo de A.A.”

Em todas estas atividades sempre teve o cuidado de honrar a Tradição do Anonimato no nível público. Nunca deixou que fosse publicada nenhuma fotografia sua ou que seu sobrenome fosse publicado na rádio, televisão ou jornais escritos. Na década de 1960 interessou-se pela Associação Norte-americana de Esquizofrenia e ajudou a tornar este movimento de saúde, voluntário, reconhecido. Teve o cuidado de esclarecer que fazia este tipo de trabalho como cidadão e não como representante de A.A.

Nunca recebeu salário

Bill nunca recebeu salário por seu trabalho em A.A. Um relatório financeiro seu está guardado nos arquivos do Escritório de Serviços Gerais – ESG, de Nova York, e pode ser visto por qualquer membro de A.A. interessado.
O relatório mostra que Bill recebeu apenas o valor dos direitos autorais pelos seus escritos e estes direitos retornarão à Junta após a morte dos herdeiros de Bill.

A maneira de pensar de A.A. a respeito do alcoolismo tal como resumida por Bill no livro “Os Doze Passos e as Doze Tradições” (Junaab, código 105) produziu uma revolução no tratamento e na compreensão de um dos problemas mais antigos da história da humanidade.

Mas, Bill continuamente desaprovou ideais grandiosos para A.A. dizendo repetidamente: “Apenas tocamos na superfície”, fazendo notar que A.A. tocou apenas a um milhão dos vinte milhões de alcoólicos que há aproximadamente no mundo.

Receando dos perigos do egoísmo e do orgulho, Bill repetia frequentemente que o coração da recuperação era o serviço do Decimo Segundo Passo onde a única recompensa é a sobriedade da pessoa que presta o serviço. Começa com uma comunicação muito profunda que Bill costumava chamar “linguagem do coração”, uma frase compreendida e apreciada por alcoólicos de todos os lugares do mundo.

Bill trabalhou incansavelmente para fazer de A.A. um movimento espiritual que estivesse por cima e além das pessoas individuais e que sobrevivesse a seus fundadores. Agora chegou o momento de demonstrar que seu trabalho não foi em vão. Uma história muito prezada por Bill serve para lembrar como ele sentia.

Quando se soube que o Dr. Bob sofria de uma doença incurável, alguns membros de A.A. mostraram-lhe os desenhos de um mausoléu muito elaborado o qual se propunham a construir na sua sepultura, “algo grandioso como corresponde a um fundador”.

O Dr. Bob, com grande prazer e uma humildade comovente mostrou os planos a Bill dizendo: “Abençoados sejam; fazem-no por bem, mas por Deus, Bill, deixe que enterrem você e eu exatamente como aos outros sujeitos”. E assim foi. embora Bill se tenha ido, sentiremos sua falta e ficaremos tristes, sabemos que ele gostaria que nós sentíssemos que apenas passou a vivenciar outra experiência. Tudo o que ele fez e significou para nós como AAs irá permanecer para sempre nos corações dos ficamos para trás e nos que estão por vir. Queremos muito a Bill e sabemos que Lois sabe do amor que temos por ela.

Mas, como ele dizia com frequência, “dentro de A.A. nosso trabalho é mais importante que nossas pessoas. Os recém-chegados em A.A. devem ser saudados e ajudados muito depois que tenhamos ido”.

Dessa maneira, Bill provavelmente pediria apenas como tributo à sua memória, que estendamos a mão oferecendo ajuda ao próximo bêbado que entre cambaleando esta noite numa reunião de A.A.
Por enquanto, até logo, Bill.

Bem-vindo, recém-chegado.

Bill antes de A.A.

Nascido em East Dorset, Vermont, no dia 26 de novembro de 1895, Bill foi o único filho homem de Emily e Gilman Barrows Wilson. Recebeu sua primeira educação numa escola de duas salas em East Dorset e depois em Rutland, Vermont; em 1909 foi estudar no Seminário Burr and Burton em Massachussets e depois na Escola Superior de Arlington, Massachussets.

Em 1914 começou um curso de Engenharia Elétrica na Universidade de Norwich, Vermont que foi interrompido para ingressar na escola de treinamento de oficiais em Platsburg, Nova York, em maio de 1917. Como milhares de soldados que foram à Primeira Guerra Mundial, Bill teve sua primeira experiência com o álcool durante o serviço militar. No dia 24 de janeiro de 1918, casou-se com Lois Burnham na Igreja Suedemborgiana Nova Jerusalém, no Brooklin, Nova York. Depois partiu para a guerra na França com o Batalhão de Artilharia 66 onde serviu como segundo tenente.

Em 1921 começou a trabalhar como investigador de fraudes para a firma de seguros U.S. Fidelity and Guaranty de Nova York, e foi aí que começou sua carreira em Wall Street que floresceu até 1931.

Poucos eram os que sabiam quando a bebida o deixava fora de controle e ele mesmo tampouco o reconhecia. Isto aconteceu durante os anos da Lei Seca quando a bebida alcoólica era feita em casa ou consumida em bares clandestinos que proliferavam em todas as quadras. Sua maneira de beber logo se tornou um problema muito sério.

Perdeu um emprego excelente, a casa do Brooklin foi confiscada por falta de pagamento, tornou-se um arrimado nos negócios da bolsa. Lois teve que procurar trabalho para o sustento dos dois.

No dia do Armistício, em novembro de 1934 começou sua última relação com a bebida que terminou no dia 11 de dezembro de 1934 quando Bill foi admitido pela última vez no Hospital Towns.

Aqui começa a história de A.A.

Grapevine em memória de Bill

A próxima edição da revista Grapevine, da qual Bill era um colaborador assíduo, será dedicada à sua memória. Uma sessão sobre sua biografia estará acompanhada de muitas fotografias.

N.T.: Você poderá encontrar esta matéria na edição de março/1971, no endereço:

http://da.aagrapevine.org/browsedate.php?dt=1971_3

Em honra à memória de Bill

Lois, a viúva de Bill, deseja comunicar sua gratidão aos milhares de amigos pelas mensagens de simpatia e pesar, uma vez que seria fisicamente impossível agradecer a cada um pessoalmente.

Bill e Lois tinham pedido que não fossem enviadas flores. Entretanto, os membros que desejarem podem fazer contribuições a um fundo especial em memória para ser administrado pela Junta de Serviços Gerais de A.A. destinado a fins especiais.

Para resguardar a Tradição de A.A., apenas serão aceitas contribuições de membros de A.A. Os cheques podem ser enviados a “Memorial Fund, P.O. Box 459, Grand Central Station, New York, N.Y. 10017”.

Muitos enviam seus últimos respeitos

As cartas seguintes são apenas uma amostra dos tributos feitos a Bill recebidos no escritório de Serviços Gerais – ESG, de Nova York. Carta dirigida ao jornal New York Times, no dia 29 de janeiro de 1971:

“Como médico que trabalhou durante muitos anos com alcoólicos em um dos grandes hospitais da cidade e, agora como administrador de um dos programas nacionais sobre alcoolismo, sinto uma profunda dor pela perda deste homem a quem nunca conheci. Não apenas estão de luto e agradecendo porque Bill tenha vivido os alcoólicos recuperados, mas também nós, os profissionais compartilhamos estes sentimentos e manifestamos nossa gratidão por nos ter mostrado a maneira de aceitar o alcoólico como uma pessoa digna de atenção e capaz de ser ajudada. A Associação de Alcoólicos Anônimos foi a primeira a mostrar que a vida do alcoólico não era uma causa perdida. Enquanto a medicina, a psiquiatria e as entidades sociais demoravam em reconhecer o alcoolismo como uma doença tratável, Alcoólicos Anônimos já tinha começado a acumular recuperações bem- sucedidas”.

Dr. Norris E. Chafetz
Diretor, Programa de Alcoolismo…

“… Quão sábio você foi durante todos estes anos… Todos tivemos um raio de esperança, mas o seu foi de instintiva sabedoria – o “tato”, a comunicação entre dois corações cheios de amor, o presente da sensibilidade e a graça da recuperação ajuda a nos ver em você. Você foi o primeiro a fazer-nos ver o quanto queríamos colocá-lo num pedestal, que Deus nunca escolhia homens perfeitos para levar Sua mensagem”
Um membro de A.A.

“Sinto que Bill não nos deixou, mas apenas mudou de endereço. Vive conosco e sempre será assim…Nunca será esquecido”.
Um membro de A.A.

N.T.: O texto a seguir faz parte integrante da mesma edição do Box 4-5-9; é uma reprodução, com permissão, do artigo do jornal New York Times publicado na terça feira dia 26 de janeiro de 1971, “Bill W. of Alcoholics Anonymous Dies” assinado por John W. Stevens.

Morre Bill W. de Alcoólicos Anônimos

William Griffith Wilson morreu na madrugada do domingo e com o anúncio de sua morte, foi revelado que ele era Bill W. o cofundador de Alcoólicos Anônimos em 1935. Tinha 75 anos.

Ao seu lado estava sua esposa, Lois, que lhe fora leal durante seus anos de “bêbado decadente” e que mais tarde trabalhara ao seu lado para ajudar outros alcoólicos. Ela é uma das fundadoras dos Grupos Familiares Al-Anon e Alateen, que lidam com os medos e insegurança sofrida por cônjuges e filhos de bebedores problema.

Como Bill W., o Sr. Wilson compartilhou o que ele chamou de “experiência, força e esperança” em centenas de palestras e escritos, mas – por ter tido a consciência que era “apenas mais um cara chamado Bill, que não podia lidar com a bebida” – seguiu o conselho dos companheiros alcoólicos, e recusou um salário por seu trabalho em favor da Irmandade. Ele sustentava-se (e mais tarde também sua esposa) com os direitos autorais dos livros de A.A.

O Sr. Wilson deu permissão para quebrar seu anonimato de A.A. após a sua morte em um comunicado assinado em 1966. O papel do Dr. Robert Holbrook Smith como o outro fundador da irmandade mundial foi divulgada publicamente quando o cirurgião de Akron, Ohio, morreu de câncer em 1950, após 15 anos de sobriedade ininterrupta.

Ao criar a doutrina que os membros não devem revelar sua filiação a A.A. a nível público, Bill W. explicou que “o anonimato não serve apenas para nos proteger da vergonha e do estigma do alcoolismo; seu propósito mais profundo é evitar que nossos egos tolos corram como um animal selvagem atrás de dinheiro e fama, às custas de A.A.”.

Sentimento de inferioridade

O Sr. Wilson evitava a eloquência e eufemismos e impressionava seus ouvintes com a simplicidade e franqueza de sua “história” de A.A.

Em sua terra natal, East Dorset, Vermont, onde ele nasceu em 26 de novembro de 1895 e onde frequentou uma escola de ensino fundamental que tinha apenas duas salas, lembrou, “eu era alto e desajeitado, e me sentia muito mal porque crianças menores me empurravam pra lá e pra cá. Lembro-me de ter ficado deprimido por um ano ou mais, então tive uma determinação feroz de ser vencedor, ser o homem nº 1”.

“Nos anos loucos”, ele lembrou, “Eu estava bebendo para sonhar grandes sonhos de poder e grandiosidade”. Sua esposa foi ficando cada vez mais preocupada, mas ele assegurou que “os homens geniais criam seus melhores projetos quando estão bêbados”.

Ajuda do Grupo de Oxford

No final de 1934, ele foi visitado por um antigo companheiro de bar, Ebby T., que disse ter-se da compulsão de beber com ajuda do grupo “First Century Christian Fellowship – Companheirismo Cristão do Primeiro Século (agora conhecido como Rearmamento Moral)”, então conhecido como Grupo de Oxford, um movimento fundado na Inglaterra, pelo falecido Dr. Frank N. D. Buchman.

Um mês depois, Bill W. estava cambaleante no Towns Hospital, uma instituição de Manhattan, para o tratamento de alcoolismo e dependência de drogas. O Dr. William Duncan Silkworth, seu amigo, conduziu-o até a cama.

Então, o Sr. Wilson lembrou-se do que Ebby T. tinha dito: “Você admite sua derrota, você começa a ser honesto com você mesmo… e reza para qualquer Deus que achar que existe, mesmo que seja para fazer uma experiência” Bill W. acabou gritando: “Se há um Deus, que se manifeste. Estou pronto para fazer qualquer coisa, qualquer coisa!”.

“De repente”, disse ele, “a sala iluminou-se com uma grande luz branca. Senti um êxtase que não há palavras para descrever. Parecia que um espírito estava soprando e não apenas um vento de ar. Com aquela explosão sobre mim libertei-me”.

Recuperando-se lentamente, e tomado por entusiasmo, o Sr. Wilson imaginou uma reação em cadeia entre bêbados, cada um levando a mensagem de recuperação para o próximo. Enfatizando em primeiro lugar a sua regeneração espiritual, e trabalhando juntamente com os Grupos Oxford, ele lutou durante meses para tornar o “mundo sóbrio”, mas não conseguiu muito.

“Olhe Bill”, o Dr. Silkworth advertiu, “você está pregando a esses bebuns. Você está falando sobre os preceitos de Oxford de absoluta honestidade, pureza, altruísmo e amor. Dê-lhes o enfoque médico, enfatize sobre a obsessão que os condena à bebida. Isso, passado de um alcoólico para o outro pode derrubar os duros egos”.

O Sr. Wilson, então, se concentrou na filosofia básica de que o alcoolismo é uma alergia física somada a uma obsessão mental – uma doença física, mental espiritual que, embora incurável, pode ser detida. Muito mais tarde, o conceito de doença do alcoolismo foi aceito por uma comissão da American Medical Association e pela Organização Mundial de Saúde.

Ainda sem beber, seis meses depois de sair do hospital, o Sr. Wilson foi a Akron, Ohio, para representar um comprador de ações. Ele perdeu o negócio, e estava prestes a entrar noutra disputa ao passar pelo bar no saguão do Hotel Mayflower. Em pânico, ele procurou a força interior e lembrou que ele tinha, até agora, ficado sóbrio ao tentar ajudar outros alcoólicos.

Através de canais do Grupo de Oxford, naquela noite, ele foi apresentado ao Dr. Robert Holbrook Smith, um cirurgião e, como ele, natural de Vermont, que em vão procurou curas médicas e ajuda religiosa para sua compulsão por bebida.

Bill W. conversou com o médico sobre seu antigo padrão de consumo e sua possível libertação da compulsão.

“Bill foi o primeiro ser humano vivo com quem eu já tinha falado que, inteligentemente discutiu meu problema a partir de uma experiência real”. O Dr. Bob, como ficou conhecido, disse mais tarde. “Ele falou a minha língua”.

Os novos amigos concordaram em compartilhar entre si e com outros companheiros alcoólicos suas experiências, forças e esperanças. A sociedade de Alcoólicos Anônimos nasceu em 10 de junho de 1935, o dia em que o Dr. Bob bebeu seu último gole e abraçou o novo programa.

O Sr. Wilson dizia que o Dr. Smith era “a rocha sobre a qual A.A. está fundada. Sob seu apadrinhamento, com um pequeno apoio meu, o primeiro grupo de AA no mundo nasceu em Akron, em junho de 1935 ”.