Box 4-5-9, Abr. Mai. / 2007 (pág. 5-6)
Título original: “Clinton T. Duffy, el jefe de prisión que reformó ‘la Q’”
Em 1950, quando vários milhares de membros de Alcoólicos Anônimos se reuniram em Cleveland para a Primeira Convenção Internacional, um dos principais oradores foi Clinton T. Duffy, então diretor da Presidio de San Quintín, na Califórnia. “O Sr. Duffy viajou mais de 3.200 km para estar conosco em Cleveland”, escreveu Bill W., cofundador de A.A. “Logo vimos porquê.
Veio porque é um grande ser humano. Novamente os AAs nos perguntamos até que grau nossa reputação chegou a ser superior ao nosso caráter”.
Mas ao Sr. Duffy, já bem conhecido por seus trabalhos inovadores na reforma dos presídios, deveu-lhe parecer que a reputação de A.A. era bem merecida. Embora sempre tivesse presente a segurança do presidio, se dispôs a buscar imediatamente métodos seguros para a reabilitação dos presidiários quando tomou posse como diretor do Presidio de San Quintín em 1940. Pouco tempo depois de iniciar sua função soube do programa de A.A. e no começo da década de 1940, introduziu o programa de A.A. em San Quintín, uma prisão conhecida como “a Q” no jargão dos condenados. “Havia graves problemas para solucionar; mas o Sr. Duffy os aceitou e sua fé acabou sendo recompensada”, disse Bill mais tarde.
Este foi um dos primeiros programas dentro dos muros das prisões – uma grande conquista porque então A.A. tinha apenas seis anos de existência e o livro Alcoólicos Anônimos tinha sido publicado dois anos antes. Duffy disse na Convenção de Cleveland que somente os alcoólicos poderiam entender o problema do alcoolismo: “Eles, e somente eles, conhecem o caminho do retorno porque eles próprios tinham feito a agitada viagem de ida e de volta”.
O Sr. Duffy também disse que um recluso que tenha participado do programa de Alcoólicos Anônimos no presidio tem uma possibilidade três vazes maior de superar o período de liberdade condicional do que aquele que evitou o programa, de acordo com uma reportagem do Akron Beacon Journal. Disse que esses homens raramente transgredem as condições de liberdade ou cometem outro crime. E tampouco eram propensos a perder seu emprego por absenteísmo ou abandono.
O Sr. Duffy tinha participado do lançamento do programa de San Quintín diante do ceticismo dos demais oficiais da prisão. Também permitiu que membros de A.A. de fora viessem participar das reuniões, uma prática muito ousada naquele tempo. Em toda a história de A.A. não se celebrou uma reunião em circunstâncias mais tensas que aquela primeira reunião em San Quintín, lembra Duffy. “Os membros de fora ficaram assombrados com o ambiente e os presos assombrados pelos visitantes do ‘mundo livre’”.
O Sr. Duffy fez um discurso de boas-vindas, mas o que relaxou a tensão foi a fala de um membro de A.A. de fora do presídio. O Sr. Duffy muitas reuniões de A.A. posteriormente quando membros de A.A. visitavam o presidio. Ficava impressionado com as histórias de pessoas de todas as classes e condições, e ouvir suas explicações a respeito da maneira com que A.A. tornou possível recobrar sua dignidade e o respeito dos seus concidadãos como consequência de ter seguido o programa.
Também recebia cartas de membros de A.A. oferecendo sua ajuda parta reabilitar um membro de A.A. do presidio. No dia 28 de novembro de 1943, Bill W. visitou o Grupo de San Quintín como orador convidado porque tinha um forte desejo de ver o progresso daquele projeto sem precedentes. O Sr. Duffy recebeu relatórios de agentes de liberdade condicional a respeito de antigos presos que tinham recobrado o respeito das suas comunidades com a ajuda dos Grupos de A.A. Disse que a generosidade dos AAs servia como inspiração não apenas para os presos, mas também para os administradores do presidio. “Sua colaboração entusiasmada nos fez possível ampliar o programa aqui na Califórnia”. Também disse que o primeiro preso secretário de um Grupo de A. A. ofereceu-se como voluntário para ser transferido ao Presidio de Folsom para organizar ali um Grupo de A.A.
Este programa pioneiro de San Quintín despertou o interesse de muitos presídios de outras partes dos EUA. Em 1952, a revista Grapevine publicou que havia 78 Grupos de A.A. nos presídios dos EUA e um na África do Sul. Atualmente (2007) cálculos indicam haver aproximadamente 2.500 Grupos deste tipo na América do Norte com a participação de 65.000 reclusos pelo menos.
O Sr. Duffy foi, por natureza e formação, o administrador penitenciário ideal para considerara possibilidade de que A.A. funcionasse atrás dos muros. Por vezes foi chamado um “condenado a cadeia perpétua” e San Quintín porque nasceu ali em 1898. Seu pai tinha sido guarda e a família morava no recinto da instituição. Casou-se com Gladys Carpenter, seu amor desde criança, que também morava em San Quintín onde seu pai era capitão da guarda.
Criado naquele ambiente, o jovem Duffy conheceu muitos reclusos e já na tenra idade começou a se preocupar com o bem-estar dos prisioneiros. “Na minha infância, San Quintín não era uma prisão modelo”, ele diz. “Havia muitos guardas sádicos com poder demais e oportunidades de agir com sadismo. Havia muitos lugares onde se podia abandonar um homem até apodrecer e muito pouco lazer para evitar que isso acontecesse. Havia amargura demais, ódio demais, desamparo demais, brutalidade demais, sujeira demais, humilhação demais”.
San Quintín era ainda uma das prisões mais duras do país quando o Sr. Duffy se incorporou no sistema como secretário do diretor do presidio em 1929. Continuou servindo como secretário de outros diretores, e chegou a ser considerado no sistema penitenciário como administrador competente, capaz de levar os projetos a bom termo, e era muito respeitado tanto pelos reclusos como pelos demais administradores.
Em 1937 foi nomeado secretário da Junta de Condenações e Liberdade Condicional. Enquanto isso, San Quintín tinha-se transformado no que o Sr. Duffy chamou “um paraíso dos sádicos” com guardas que recorriam à tortura e à violência para controlar os prisioneiros recalcitrantes. Preocupado com as notícias que lhe chegavam de San Quintín, o governador da Califórnia, Culbert Olson, despediu todos os membros da junta de diretores de presídios. A nova junta despediu o diretor de San Quintín e nomeou o Sr. Duffy para substitui-lo por um período de experiência de 30 dias.
Com o apoio da junta, o Sr. Duffy imediatamente começou a eliminar tantos males da vida carcerária quantos lhe foi possível, incluindo os guardas cruéis, as masmorras e tudo aquilo que tinha contribuído para converter San Quintín num autêntico calvário para os 6.000 prisioneiros. “Tive muitos objetivos e alcancei a maior parte deles”, escreveu em 1962, “mas a coisa que mais queria, não tinha autoridade para consegui-la… Podia eliminar os instrumentos de tortura, mas não podia eliminar os instrumentos da morte”.
Conforme Duffy explica no seu livro intitulado “88 homens e uma mulher”, publicado em 1962, seu maior desejo era eliminar a pena de morte. Apesar de ser contra a pena de morte viu-se obrigado a participar de 90 execuções, uma obrigação que o deixava destroçado e perplexo.
E de grande importância, devido seu apoio ao programa, o álcool teve algo a ver com os crimes capitais e com outros delitos cometidos pelos homens e mulheres que estavam encarcerados. O Sr. Duffy serviu como diretor do presidio de San Quintín desde 1940 até 1952, quando foi promovido à Adult Authority (Autoridade Adulta), um posto que lhe deparou oportunidades mais amplas de ajudar na reabilitação dos ex-detentos. Já nessa época, tinha-se convertido numa lenda viva no campo das instituições correcionais e foi o primeiro diretor de San Quintín que podia passear pelo pátio da prisão sem guardas e falar com os detentos. Fez amigos entre os detentos e ficava encantado ao ouvir o sucesso daqueles que cumpriam com as condições da liberdade condicional e se incorporavam como cidadãos livres, membros de suas comunidades.
Um escritor descreveu-o numa revista como “o chefe de prisão mais competente do mundo, não apenas pelas reformas que iniciou nas penitenciárias, mas também por seu cortadora-elevadora”. Quando depois de 12 anos saiu do posto de diretor do presídio, tinha servido mais tempo nesse posto que qualquer outro diretor de San Quintín. “Foi um trabalho que me agradou muito num lugar que eu gostava muitíssimo”, disse e acrescentou que San Quintín foi o único lar que conheceu na sua vida. Disse que ia sentir a falta de seus amigos dos dois lados dos muros e sua participação num programa de formação profissional e tratamento “que eu estabeleci e que contribuiu para a reabilitação de muitos homens que de outra maneira poderiam passar tida sua vida encarcerados”. A.A. foi sem dúvida parte integrante do programa do Sr. Duffy em San Quintín.
Sua intuição tinha lhe dito desde o começo que A.A. poderia funcionar nos presídios tão bem quanto no mundo livre. Iria ser especialmente importante para ajudar as pessoas postas em liberdade condicional a evitar as circunstâncias que poderiam evitar a reincidência. Como explicou um administrador de presidio da Califórnia, “Se podemos manter estas pessoas sóbrias na liberdade condicional, podemos mantê-las fora da prisão”.
O Sr. Duffy aposentou-se em 1962, depois de servir dez anos como membro da junta de Autoridade adulta. Depois trabalhou como diretor executivo do Conselho sobre Alcoolismo da Cidade de São Francisco e presidente da Fundação Sétimo Passo, organização que ajuda os ex-detentos a retornar à sociedade. Nos seus últimos anos morou em Walnut Creek, Califórnia, onde morreu depois de uma longa doença em 1982. Houve reportagens póstumas a seu respeito nos meios de comunicação de todo o país.
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