Importante: O material a seguir é uma tradução feita pelo Dr. Lais Marques da Silva, ex- Presidente da Junta de Custódios, do panfleto que foi o primeiro trabalho escrito sobre apadrinhamento e o seu título original era “Apadrinhamento em A.A. suas Obrigações e Responsabilidades”. Foi escrito por Clarence H. Snyder (*), em 1944 e impresso pelo Comitê Central de Cleveland. Este transcritor apenas adaptou o formato ao conjunto.
(*) Clarence H. Snyder, (1902-1984), ficou sóbrio em Cleveland-Ohio, no dia 11 de fevereiro de 1938 com a ajuda do seu padrinho, cofundador, o Dr. Bob. Em 18 de maio de 1939, fundou o grupo nº. 3 de A.A. em Cleveland-Ohio e este foi o primeiro grupo a usar o nome Alcoólicos Anônimos.
Faleceu na Flórida, em 22 de março de 1984, com 46 anos de sobriedade.
Sua história, “A Casa do Mestre Cervejeiro” está publicada nas 1ª, 2ª. e 3ª. edições do Big Book, nas páginas 297/303
Fonte: https://silkworth.net
Prefácio
Cada membro de A.A. é um padrinho em potencial de um novo membro e deveria reconhecer claramente as obrigações e deveres de tal responsabilidade.
A aceitação da oportunidade de levar o plano de A.A. para aquele que sofre no alcoolismo compreende responsabilidades muito reais e criticamente importantes. Cada membro, ao praticar o apadrinhamento de um alcoólico, deve lembrar que está oferecendo o que é, frequentemente, a última chance de reabilitação, de sanidade, ou mesmo, de vida.
Felicidade, saúde, segurança, sanidade e vida de seres humanos são as coisas que temos que manter em equilíbrio quando apadrinhamos um alcoólico.
Nenhum membro é suficientemente sábio para desenvolver um programa de apadrinhamento que possa ser aplicado, com sucesso, a todos os casos. Nas páginas seguintes, no entanto, delineamos um procedimento que é sugerido e que, suplementado pela própria experiência do membro, tem-se mostrado bem sucedido.
Ganhos pessoais de ser um padrinho
Ninguém colhe todos os benefícios de qualquer irmandade a que esteja ligado a menos que, de coração, se engaje nas suas importantes atividades. A expansão de Alcoólicos Anônimos para campos mais largos e o benefício maior para um número crescente de pessoas resulta diretamente do acréscimo de uma nova pessoa, de membros ou associados que são de valor.
Qualquer membro de A.A. que não tenha experimentado as alegrias e satisfações de ajudar outro alcoólico a retomar o seu lugar na vida, ainda não terá percebido completamente os benefícios que pode auferir desta irmandade. Por outro lado, deve ficar claramente guardado na mente que a única razão possível para levar um alcoólico para o A.A. é o benefício daquela pessoa. O apadrinhamento nunca deve ser feito para:
- 1) aumentar o tamanho do grupo;
- 2) satisfação ou glória pessoal ou, ainda,
- 3) porque o padrinho sente, como sendo do seu dever, refazer o mundo.
Até que um membro de A.A. tenha assumido a responsabilidade de colocar um trêmulo e impotente ser humano de volta no caminho para se tornar um membro saudável, útil e feliz da sociedade, ele não terá desfrutado a completa sensação de ser um membro de A.A.
Fonte de nomes – indicações para apadrinhamento
A maior parte das pessoas tem, entre os seus próprios amigos e relações, alguém que se beneficiaria dos nossos ensinamentos. Outros têm seus nomes dados por igrejas, por doutores, empregadores ou por algum outro membro que não pode fazer um contato direto.
Por causa da ampla gama de atividades do A.A., os nomes frequentemente chegam de lugares não usuais e inesperados. Esses casos deveriam ser contatados assim que todos os dados como: estado civil, relações domésticas, estado financeiro, hábitos de beber, emprego, e outras informações facilmente acessíveis, estivessem em mãos.
É o cliente potencial um candidato?
Muito tempo e esforço poderiam ser poupados ao se conhecer, tão cedo quanto possível, se:
- 1) A pessoa realmente tem um problema com a bebida?
- 2) Sabe que tem um problema?
- 3) Deseja fazer alguma coisa acerca do seu beber?
- 4) Deseja ajuda?
Às vezes, as respostas a essas questões não podem ser obtidas até que o candidato potencial tenha tido alguma informação sobre o A.A. e de ter uma oportunidade de pensar. Frequentemente são dados nomes, que depois de uma verificação, mostram que o candidato potencial não é, de forma nenhuma, um alcoólico ou ainda que está satisfeito com o atual modo de viver. Não deveríamos hesitar em descartar esses nomes das nossas listas. Devemos estar certos, no entanto, de fazer com que o potencial candidato saiba onde pode nos alcançar em qualquer data futura.
Quem deveria se tornar membro?
O A.A. é uma irmandade de homens e mulheres ligados pela sua inabilidade de usar o álcool em qualquer forma razoável com proveito ou prazer. Obviamente, qualquer novo membro introduzido poderia ser do mesmo tipo de pessoa, sofrendo da mesma doença.
A maior parte das pessoas pode beber razoavelmente, mas estamos somente interessados naquelas que não podem. Bebedores de festas, bebedores sociais, festeiros e outros que continuam a ter mais prazer do que dor no seu beber, não são de interesse para nós.
Em alguns casos, um indivíduo pode acreditar que é um bebedor social quando ele definitivamente é um alcoólico. Em muitos desses casos, mais tempo deve passar antes que a pessoa esteja pronta para aceitar o nosso programa. Pressionar tal pessoa antes que esteja pronta pode arruinar as suas chances de, em algum momento, se tornar um membro de A.A., com sucesso. Não se deve excluir a possibilidade de uma ajuda futura ao se pressionar demais no início.
Algumas pessoas, embora definitivamente alcoólicas, não têm desejo ou ambicionam melhorar o seu modo de viver e, até que elas o façam, A.A. não tem nada a oferecer.
A experiência tem mostrado que idade, inteligência, educação, situação ou a quantidade de bebida alcoólica ingerida tem pouco, se tem, a ver com o fato de uma pessoa ser ou não um alcoólico.
Apresentando o projeto
Em muitos casos, a condição física de uma pessoa é tal que deveria ser hospitalizada, se possível. Muitos membros de A.A. acreditam que a hospitalização, com tempo suficiente para planejar o futuro, livre das preocupações domésticas e das preocupações com negócios oferece uma vantagem significativa. Em muitos casos, o período de hospitalização marca o início de uma nova vida. Outros membros são igualmente confiantes no fato de que qualquer pessoa que deseje aprender sobre o projeto de vida de A.A. pode fazer isso em seu próprio lar ou enquanto engajado nas ocupações normais. Milhares de casos são tratados de cada modo, que tem-se mostrado satisfatórios.
Passos sugeridos
Os seguintes parágrafos delineiam um procedimento sugerido para apresentar o projeto de A.A. ao possível candidato, em casa ou no hospital.
1) Qualificar-se como um alcoólico
Ao atender a um novo possível candidato, tem-se mostrado melhor que o padrinho se qualifique como sendo uma pessoa normal que tem encontrado felicidade, contentamento e paz por meio do A.A.. Deve tornar claro, imediatamente, que você é uma pessoa engajada nas coisas da vida, em ganhar a vida. Fale que a única razão para acreditar que é capaz de ajudá-lo é que você mesmo é um alcoólico que tem tido experiências e problemas que podem ser semelhantes ao dele.
2) Relate a sua história
Muitos membros têm achado desejável iniciar imediatamente com a sua história pessoal com a bebida como um meio de obter a confiança e cordial cooperação do possível candidato.
É importante relatar a história da sua própria vida de bebedor e fazê-lo de um modo que irá descrever um alcoólico, mais do que falar de uma série de situações humorísticas de bêbados em festas. Isso capacitará a pessoa a ter uma visão clara de um alcoólico e deveria ajudá-lo a decidir definitivamente se é um alcoólico.
3) Inspire confiança no A.A.
Em muitos casos, o possível candidato irá tentar vários meios de controlar o seu beber, incluindo atividades de recreio, igreja, mudança de residência, mudança de associações e várias outras atitudes visando o controle. Esses meios irão, naturalmente, se mostrar sem sucesso. Focalize a sua série de esforços malsucedidos para controlar o beber… Os resultados infrutíferos e ainda o fato de que você se tornou capaz de parar de beber com a prática dos princípios de A.A.. Isso encorajará o futuro candidato para olhar com confiança a sobriedade em A.A., a despeito dos muitos fracassos anteriores que tenha tido com outros planejamentos.
4) Fale de vantagens adicionais
Fale francamente ao possível candidato que ele não poderá entender rapidamente todos os benefícios que estarão chegando por meio do A.A.. Relate a felicidade, a paz de espírito, saúde e, em muitos casos, os benefícios materiais que são possíveis através do entendimento e da aplicação do modo de viver de A.A..
5) Fale da importância de ler o livro
Explique a necessidade de ler e de reler o livro de A.A.. Destaque que esse livro dá uma descrição detalhada das ferramentas do A.A. e dos métodos de aplicação dessas ferramentas para construir um fundamento de reabilitação para viver. Esse é um bom momento para enfatizar a importância dos doze passos e dos quatro absolutos.
6) Qualidades necessárias para o sucesso em A.A.
Faça saber ao possível candidato que os objetivos de A.A. são prover os meios e modos para um alcoólico voltar ao seu lugar normal na vida. Desejo, paciência, fé, estudo e aplicação são o mais importante em determinar cada planejamento individual de ação para ganhar inteiramente os benefícios de A.A..
7) Reintroduza a fé
Desde que a crença em um Poder Superior a nós mesmos é o coração do projeto de A.A. e de que o fato de que essa ideia é frequentemente difícil para uma nova pessoa, o padrinho deveria tentar introduzir o início de um entendimento acerca dessa importante característica.
Frequentemente, isso pode ser feito por um padrinho ao relatar a sua própria dificuldade de captar um entendimento espiritual e falar sobre os métodos que usou para superar suas dificuldades.
8) Ouça a sua história
Enquanto falando ao recém chegado, ganhe o tempo para ouvir e estudar as suas reações a fim de que você possa apresentar a sua informação de um modo mais efetivo. Deixe-o falar também. Lembre … vá com calma.
9) Leve a diversas reuniões
9-Para dar ao novo membro um quadro amplo e completo do A.A., o padrinho deveria levá-lo a várias reuniões a conveniente distância da sua casa. Assistir diversas reuniões dá ao novato a oportunidade de selecionar um grupo em que se sinta mais feliz e confortável e é extremamente importante para deixar que o possível candidato tome a sua própria decisão em relação a que grupo irá se juntar. Acentue que ele será sempre bem-vindo a qualquer reunião e que pode mudar de grupo se assim desejar.
10) Explique o A.A. à família do possível candidato
Um padrinho bem sucedido aceita o esforço e faz qualquer empenho necessário para ficar certo de que as pessoas próximas e com interesse maior no seu doente (mãe, pai, esposa, etc.,) sejam inteiramente informadas acerca do A.A., seus princípios e seus objetivos. O padrinho cuida para que essas pessoas sejam convidadas para reuniões e as mantém informadas, a todo o momento, da situação corrente do possível candidato.
11) Ajude o possível candidato a se antecipar às experiências a serem vividas em um hospital.
Um possível candidato irá ter mais benefício de um período de internação se o padrinho descrever a experiência e ajudá-lo a se antecipar a elas, preparando o caminho daqueles membros que irão chamá-lo.
12) Consulte os membros antigos de A.A.
Essas sugestões para o apadrinhamento de uma nova pessoa nos ensinamentos de A.A. não são completas. Elas pretendem somente dar uma moldura e um guia geral. Cada caso individual é diferente e deveria ser tratado como tal. Informação adicional para o apadrinhamento de uma nova pessoa pode ser obtida a partir da experiência de um companheiro mais experiente nesse tipo de serviço. Um co-padrinho, com experiência, trabalhando com um novo companheiro no apadrinhamento de um possível futuro membro tem-se mostrado satisfatório. Antes de assumir a responsabilidade de apadrinhamento, um membro deveria estar certo de que é capaz de realizar a tarefa e de estar disposto a dar seu tempo, esforço e meditação que uma tal obrigação implica. Pode acontecer que ele queira selecionar um co-padrinho para compartilhar a responsabilidade ou pode sentir necessário solicitar a outro companheiro que assuma a responsabilidade pela pessoa que ele tenha localizado.