Box 4-5-9, Fev. Mar./ 2002 (pág. 8-9)=> https://www.aa.org/sites/default/files/newsletters/sp_box459_feb-mar02.pdf
Título original: “El apadrinamiento es outra forma de decir A.A.”
O apadrinhamento tem muitos aspectos, muitas formas, cada uma delas única em suas nuances de identificação, esperança e ajuda. Porém, ao se olhar de perto pode se ver que cada uma é parte integrante da recuperação em A.A.; e para cada alcoólico que se mantém sóbrio, a essência do apadrinhamento costuma ser a união inseparável de “meu programa/eu”.
Desde seu começo, o apadrinhamento tem sido descrito de diversas maneiras, como um indulto espiritual, uma colaboração do Quinto Passo, um trabalho do Décimo Segundo Passo e uma benção dos céus. É tão antigo quanto a relação que tinham os cofundadores Bill W. e o Dr. Bob para se manter sóbrios quando se conheceram em Akron, Ohio, em 1935; é tão novo quanto a relação que está sendo forjada, neste mesmo momento, entre um veterano, ou um Grupo inteiro, e um recém chegado doente e desconcertado.
Descrevendo sua relação com o Dr. Bob nos primeiros dias, Bill disse certa vez: “O Dr. Bob não me necessitava para sua instrução espiritual… o que sim necessitava quando nos vimos pela primeira vez era a deflação profunda e a compreensão que somente um bêbado pode dar a outro. O que eu necessitava era da humildade do esquecimento de mim mesmo e o sentimento de parentesco com outro ser humano da minha própria índole”.
Nos primeiros dias em Akron, o apadrinhamento costumava começar com a hospitalização do doente alcoólico e sua rendição, esta última, muitas vezes conduzida pela amiga de A.A. não alcoólica, Irmã Inácia, a qual em tom áspero instava seus pacientes a dobrar os joelhos em vez dos cotovelos. Em outras ocasiões, começou na cozinha do Dr. Bob com sua receita caseira de tomates, chucrute e xarope de milho (Karo) que se misturava numa panela grande e se deixava cozinhar a fogo lento. “Ao tomá-lo, os homens quase vomitavam” disse Ernie G., um membro pioneiro. “Finalmente, o Dr. Bob retirou o chucrute e durante muitos anos continuou com os tomates e o xarope de milho”.
Hoje em dia, essa desagradável beberagem agridoce foi substituída por batidas de leite, mel e caldo concentrado, e o punhado de “candidatos” se converteu em mais de dois milhões no mundo todo. Porém, não mudou em nada o fato simples de que a melhor forma de manter nossa sobriedade é ajudar o alcoólico que ainda sofre a alcançá-la. O falecido Custódio Webb J., do Oeste do Canadá, levou este conceito ainda mais longe. Falando na Conferência de Serviços Gerais de 1991, disse: “Você tem que presenteá-la para mantê-la, mas, não pode dar o que não tem”. Percebeu isso quando, recém-saído de uma instituição de tratamento, tentou apadrinhar alguém e acabou de volta à garrafa.
Sem dúvida, o apadrinhamento, o estar ali sem julgar durante todos os Doze Passos do caminho para ajudar outro alcoólico sem buscar em troca a gratificação do ego, nem sempre é fácil. Além do mais, “os membros de A.A. diferem em seu entusiasmo pelo apadrinhamento, na sua capacidade de fazê-lo e no tanto de tempo que podem lhe dedicar. Os membros que desejem e possam apadrinhar a vários iniciantes ao mesmo tempo não devem ser dissuadidos. O apadrinhamento é, em certo sentido, um privilégio que deve ser compartilhado por tantos membros quanto seja possível e é uma atividade que ajuda todos os membros a fortalecer sua sobriedade”.
Guy F., antigo Delegado de Maine, nos oferece outra perspectiva sobre o apadrinhamento. Falando diante da Conferência de Serviços Gerais a respeito do lema da mesma, “O apadrinhamento, a gratidão em ação”, disse: “A forma de corresponder a essa gente que me deu a ajuda e a esperança de que eu precisava é seguir passando adiante, continuar participando no serviço e expressar minha gratidão. Para mim, isto é apadrinhamento”. Depois contou uma história que havia muitos anos tinha sido relatada a ele por uma mulher nativa norte-americana, que explicava alegoricamente, ele acreditava, os conceitos do apadrinhamento: “Antigamente diziam que uma águia – uma ave muito especial que representa a liberdade e a coragem, que remontava ao céu até onde não podia ser vista, levava suas orações ao Criador. Quando novamente podia ser vista, trazia consigo a resposta. Se você ferir a Águia, cairá no chão e ficará com a boca para cima. Faz isso para se proteger. Mesmo se você trata de ajudá-la, irá resistir. Não percebe que você quer ajudá-la, e tem medo”.
Guy explicou: “Essa história me faz pensar no bêbado tombado na rua com a boca virada para baixo. Se você trata de levantá-lo, ele resistirá, não porque seja ruim, mas porque tem medo e não percebe que você somente quer ajudar. No caso da águia, você pode embrulhá-la com a sua camisa e dar-lhe algum medicamento para a ferida, o Criador irá curá-la e novamente poderá voar livre como o vento. Porem, para ajudar o homem caído na rua, pode se valer da sua própria experiência. Se está trilhando o caminho dos Doze Passos na sua vida, você pode conduzir este homem a uma nova vida. O homem chegará a ser livre como uma águia, livre para amar e para ser quem o Criador tenha disposto que seja”.
Na mesma Conferência, aos 91 Delegados dos EUA e Canadá, lhes foi feita esta pergunta: “Quantos de vocês chegaram ao serviço de A.A. com a ajuda de um padrinho?”.Todos os Delegados levantaram a mão. Como é explicado no folheto “Perguntas e respostas sobre o apadrinhamento”, seja um alcoólico ajudando outro alcoólico na sua recuperação pessoal ou chegar a prestar serviço no Grupo, “o apadrinhamento em A.A. é basicamente o mesmo. Os dois tipos de serviço brotam dos aspectos espirituais do programa”. Um padrinho de serviço, diz o folheto, poderá familiarizá-lo com as Doze Tradições, os Três Legados – Unidade, Recuperação e Serviço, e os Conceitos; pode esclarecer o princípio da rotatividade e ajudar os membros novos a perceber que o serviço é o nosso produto mais importante depois da sobriedade. De posse deste conhecimento, podemos compartilhar esta visão com outros e assegurar o futuro de Alcoólicos Anônimos.