Box 4-5-9, Abr. Mai. 1998 (pág. 1-2)=> https://www.aa.org/sites/default/files/newsletters/sp_box459_april-may98.pdf
Título original: “El apadrinamiento es uma calle de doble dirección”
O programa de recuperação de A.A. é espiritual, mas a ação dos bêbados – um sóbrio e outro enfermo apoiando-se um no outro é o que o fundamenta, conforme o que logo descobriram nossos cofundadores. Alguns anos mais tarde, ao considerar sua relação com o Dr. Bob, Bill W. comentou: “O Dr. Bob não precisava de mim para sua instrução espiritual… O que precisava quando nos encontramos pela primeira vez era a profunda deflação do ego e a compreensão que somente um bêbado pode oferecer a outro. O que eu precisava era da humildade para esquecer de mim mesmo e do sentimento de parentesco com outro ser humano da minha própria índole”.
Nos primeiros dias, em Akron, Ohio, o apadrinhamento costumava começar com a hospitalização e a admissão da derrota do alcoólico, esta última, induzida algumas vezes pela Irmã Inácia, que animava seus pacientes a dobrar os joelhos ao invés de dobrar os cotovelos. Outras vezes começava na cozinha do Dr. Bob com sua receita caseira: tomates, chucrute e xarope de milho (Karo), tudo misturado e colocado a ferver no fogo lento. “Os homens quase tinham náuseas ao tomar aquela coisa” lembrava mais tarde o pioneiro Ernie G.“Finalmente o Dr. Bob retirou o chucrute, mas continuo durante muitos anos com tomates e xarope de milho”.
Atualmente aquela beberagem foi substituída por batidos de leite, mel e consomê (uma espécie de sopa com textura bem aquosa), e aquele punhado de “possíveis candidatos”converteu-se em mais de dois milhões de membros no mundo todo. Mas a verdade simples de que para manter nossa sobriedade é entrega-la a outro alcoólico que ainda sofre, essa não mudou. No seu discurso inaugural sobre o tema “Apadrinhamento: Gratidão em ação”, na Conferência de Serviços Gerais de 1991, o falecido Custódio alcoólico Webb J., do Oeste do Canadá disse a esse respeito: “Você deve dá-lo para mantê-lo, mas não pode dar o que não tem”. Ele percebeu isso quando recém-saído de uma instituição de tratamento, tentou apadrinhar alguém e acabou “de volta à garrafa”.
Quinze meses depois, disse Webb, “voltei para A.A. e fiquei. Entrei em serviço na segunda reunião, quando o pessoal me escolheu para receber as pessoas na porta de entrada. Fazia todas as tarefas domesticas do Grupo, tais como arrumar as cadeiras, fazer café, limpar os cinzeiros – tudo menos limpar o piso. Tínhamos um companheiro que antes havia sido gangster e se alguém ousava tocar na bassoura ele o olhava de tal jeito que fazia pensar em sapatos de concreto… Depois de um tempo, encontrei alguém que aceitou ser meu padrinho, com a condição de que ficasse um ano na cidade enquanto consertava os problemas que tinha criado, que me juntara a um Grupo, que praticasse os Passos e as Tradições e que participasse das atividades do Grupo. Fiz tudo isso e, como consequência, desfrutei de uma carreira de serviço muito variada, emocionante e interessante e, provavelmente, salvadora. Como é dito no nosso Terceiro Legado: ‘A.A. é algo mais que um conjunto de princípios; é uma sociedade de alcoólicos em ação. Temos que levar a mensagem, pois se não o fizermos, nós mesmos podemos murchar e aqueles a quem não lhes foi levada a verdade podem perecer’”.
Na mesma Conferência, a então Delegada do Sul de Indiana Dorothy M., disse,“Quando um principiante estende sua mão pedindo ajuda, quero que a mão de um membro disposto a ser padrinho esteja ali mesmo”. Ela ressaltou que “nossos vínculos não vem de ter um desastre em comum, mas de ter uma solução em comum”.
A experiência demonstra que desde a ajuda própria até o serviço, os membros de A.A. dos EUA e Canadá voltaram a se comprometer com o apadrinhamento. Nas cartas recebidas no Escritório de Serviços Gerais – ESG, formulam-se variadas perguntas (muitas têm sua resposta no folheto “Perguntas e Respostas sobre Apadrinhamento”, Junaab, cód. 211, R$ 4,70).
A seguir aparecem algumas dessas perguntas resumidas e as respostas que ofereceram os membros do pessoal do ESG:
Pergunta: Bill W. teve um padrinho?
Resposta: Sim. De fato Bill escreveu em várias ocasiões a respeito da profunda influência que teve em sua vida seu amigo de infância e companheiro de bebedeiras Ebby T.“E ali estava sentado meu padrinho Ebby, o qual foi o primeiro a me trazer as palavras que me tiraram do poço do alcoolismo”, escreveu Bill em “A.A. Atinge a Maioridade”. Bill sempre se referiu a Ebby como seu padrinho, embora houvesse tido muitas recaídas. Ao longo dos anos, Bill tratou de transmitir a mensagem ao seu amigo, da mesma maneira que Ebby a tinha passado a ele.
Pergunta: Enquanto estava hospitalizado depois de três meses de sobriedade, sofri uma infecção muito grave na garganta e o médico me receitou um medicamento para a dor. Meu padrinho disse-me que deveria mudar a data da minha sobriedade para o dia em que deixei de tomar o medicamento. Vocês concordam?
Resposta: Alguns membros dizem que não confiam em seus próprios procedimentos para chegar a tomar decisões e dependem totalmente de seus padrinhos. É possível que ainda me reste algum vestígio do bebedor típico de bar, mas posso compartilhar com você que não dependo do meu padrinho para obter conselhos a respeito de assuntos legais ou de médicos. Como é dito no folheto “O membro de A.A. os medicamentos e outras drogas” ( Junaab, código 214, R$ 4,20), a experiência demonstra que é melhor que “nenhum membro de A.A. faça o papel de médico”; nem tampouco meu padrinho iria gostar que eu o coloca-se nessa situação. Meu padrinho não me deu a data da minha sobriedade e, pelo que eu sei, tampouco pode tirá-la.
Pergunta: Há uma maneira “correta” para que o padrinho possa conduzir alguém no programa?
Resposta: A experiência de A.A. demonstra que o apadrinhamento é algo muito pessoal. Tanto o padrinho como o afilhado tem bastante margem ao escolher a pessoa que vai ser seu padrinho e como irão utilizar essa relação… Eu pessoalmente não acredito numa relação de apadrinhamento parecida com cuidar de um bebê. Acredito que a minha tarefa é introduzir a pessoa no programa de recuperação de A.A., ajuda-la a trabalhar os Passos até o ponto em que esteja disposta a fazê-lo, e tratar de introduzi-la a um poder superior tal como ela o conceba. Depois, acredito que seja importante que eu vá “saindo do trabalho”, por assim dizer, e estimular o afilhado a depender de seu poder superior mais que de mim. Há outros que têm uma opinião totalmente diferente; mas para mim, isso não representa nenhum problema.
Pergunta: Meu padrinho e eu tivemos um desentendimento, e agora tenho o sentimento de não poder participar do mesmo Grupo. O que devo fazer?
Resposta: Os problemas que envolvem personalidades costumam ser os mais difíceis de resolver, mas ao praticar os princípios de A.A. em todas as nossa atividades e antepor esses princípios às personalidade, podemos chegar a superá-los até certo ponto. Esperamos que considere a possibilidade de ir a outras reuniões e conseguir outro padrinho. Em A.A. costuma-se dizer que ter um padrinho no começo não quer dizer que nos tenhamos casado com essa pessoa. Às vezes a relação não funciona e procuramos outra pessoa. O que é importante é ter um padrinho com mais tempo de sobriedade que o seu, alguém com quem você se sinta bem para compartilhar com sinceridade e honestidade e que possa ajuda-lo a praticar os Passos e as Tradições.
Pergunta: Dei o Primeiro Passo e admiti que sou impotente perante o álcool. O que devo fazer agora? O que devo procurar num padrinho?
Resposta: Bom, sempre pode dar o Segundo Passo. A respeito de segunda pergunta, quando cheguei em A.A. me foi sugerido que procura-se alguém que, (a) tivesse mais de dois anos de sobriedade, (b) fosse mulher, como eu, e (c) desse a impressão de desfrutar a sobriedade. Dessa maneira encontrei uma madrinha, e sempre serei muito agradecida a essa mulher maravilhosa que foi minha primeira verdadeira amiga em A.A. e ao longo dos anos continuou sendo uma amiga muito querida.
Pergunta: Estou sóbrio há dois anos e pela primeira vez comecei a apadrinhar alguém. Poderiam me dar algumas sugestões?
Resposta: Talvez o mais importante do apadrinhamento é o poder dar sem esperar nada em troca. Como disse Bill W. num artigo da revista Grapevine em janeiro de 1958:“Observe qualquer AA com seis meses de sobriedade enquanto trabalha com um caso novo de Décimo Segundo Passo. Se o candidato lhe diz, ‘vá para o diabo’, apenas sorri e vai trabalhar com outro. Não se frustra nem se sente rejeitado. E se o próximo caso responde com amor e atenção para com outros alcoólicos sem dar atenção a ele, o padrinho, entretanto, dá-se por satisfeito e se alegra porque seu antigo candidato está sóbrio e feliz… Mas, também percebe claramente que sua felicidade é um subproduto – um dividendo resultante de dar sem esperar nada em troca”.