Texto do Dr. Lair Marques, Ex-Custódio e Presidente da JUNAAB
“Consciência Coletiva: como o AA se organiza e decide seus caminhos”
- “… um Deus amantíssimo que Se manifesta em nossa consciência coletiva”.
- “… que todas as decisões importantes sejam tomadas através de discussão, votação e, sempre que possível, por substancial unanimidade”.
O que é consciência coletiva?
É um estado ao qual se chega por meio da participação de todos os membros que compõem um grupo, em especial nas reuniões de serviço, no processo em que se busca o conhecimento de algum assunto ou problema que esteja em estudo e se estende também às decisões que eventualmente irão ser tomadas.
Como se desenvolve o processo?
Dando oportunidade e até solicitando que todos os membros presentes participem que ofereçam as suas contribuições tanto para o estudo do problema quanto para a sua solução.
Isto significa que ninguém deve ser excluído, que ninguém deve ficar de fora. É indispensável que o coordenador seja capaz de conter os que procuram impor as suas vontades e pontos de vista, limitando a oportunidade de participação e o tempo disponível para apresentar as suas contribuições e, por outro lado, oferecer aos mais retraídos, a eles em especial, bem como a todos os membros presentes, a mesma oportunidade e o mesmo espaço de tempo para participar no processo de busca da consciência coletiva. Não só oferecer, mas, muitas vezes, é preciso até solicitar que os mais tímidos apresentem os seus pontos de vista. O poder coletivo contendo o poder individual, a grandiosidade do alcoólico.
Numa primeira rodada, pode ocorrer que as opiniões fiquem muito distantes umas das outras, mas, quando se faz uma nova rodada de opiniões na qual se buscam novos entendimentos e posições acerca do assunto em estudo, o que se observa é que, após pensar e meditar por algum tempo acerca do que já havia sido colocado por todos os companheiros anteriormente, as opiniões vão tendendo para uma área mais central, vão ficando menos distantes entre si, vão se aglutinando em torno de uma ideia ou decisão que, num certo momento, surgirá como sendo apoiada por uma substancial unanimidade. As opiniões vão gradativamente tendendo para um ponto central. Não há limitação quanto ao número de rodadas nem quanto ao tempo necessário às exposições. O processo deverá demorar o tempo que for necessário.
Como todos devem ser ouvidos, porque deve haver uma ampla participação e também porque os assuntos precisam ser estudados por completo e detalhadamente e ainda porque também as decisões a serem tomadas são sempre importantes, este processo pode exigir um longo tempo de participação e de maturação e pode igualmente exigir um esforço prolongado.
É importante que não haja pressa.
Talvez a reunião se prolongue bastante e é possível que poucos itens de uma agenda sejam abordados ou que poucas decisões sejam tomadas, mas o que é preciso ter em mente é que o processo em si é o fato mais importante e isso ocorre porque ele tem valor terapêutico. Ele vale, em primeiro lugar, pela evolução e pelo crescimento espiritual que propicia. A Irmandade de Alcoólicos Anônimos não é uma empresa em que a eficiência e o uso do tempo ficam em função dos resultados esperados e dos objetivos fixados pelo próprio processo administrativo.
Em Alcoólicos Anônimos, tempo não é dinheiro; é saúde, é recuperação, é crescimento espiritual, sobretudo. A Irmandade de Alcoólicos Anônimos é, antes de tudo, uma Irmandade em que todos procuram deter a sua doença e entrar num processo de cura, não física, mas psicológica e espiritual e a participação no serviço, especialmente no processo que leva à consciência coletiva, tem grande importância para a recuperação e para que se possa alcançar a serenidade. O próprio processo da busca da consciência coletiva é, pela sua natureza, uma maneira de diminuir a velocidade que impomos às nossas vidas, de evitar o estresse. Nele tudo se desenvolve sem obsessividade e cada membro participante vive um agora mais longo, mais demorado.
Por que é importante chegar à consciência coletiva?
Porque é um processo sábio por meio do qual não sairão vencedores nem vencidos. Porque, pela ampla participação, todos aceitam, ao final e ao cabo, e sem resistências psicológicas, as decisões que foram acordadas e ainda porque, em face da ampla participação, todos se sentem igualmente responsáveis pelas ações que serão tomadas e também pelas suas consequências e, numa visão maior, até mesmo pelos destinos da Irmandade de Alcoólicos Anônimos.
O usual é que procuremos ser mais espertos e controlar uns aos outros em função de objetivos individuais ou do interesse de pequenos grupos e isso costuma ocorrer ao nos comportarmos seguindo o estímulo psicológico que recebemos no decurso das nossas vidas.
Por meio da consciência coletiva, os conflitos podem ser resolvidos sem derramamento de sangue físico ou emocional e mais ainda, com sabedoria.
Sempre que se busca adequadamente chegar à consciência coletiva, os gladiadores baixam as armas e os escudos e se tornam hábeis em ouvir e entender e, sobretudo, em respeitar e aceitar os dons dos outros, bem como as suas limitações. Ao longo da busca da consciência coletiva, aceitamos que somos diferentes, mas que, por outro lado, estamos ligados aos demais membros pelas nossas feridas e pelo fato de estarmos aprendendo a lutar juntos mais do que uns contra os outros. Os conflitos são resolvidos. Os membros aprendem a desistir de facções e de compor pequenos subgrupos. Aprendem a ouvir mutuamente e a não rejeitar.
O silêncio de quem escuta representa uma abertura, uma disponibilidade em relação ao outro. É como criar uma zona de silêncio que traduz a confiança no outro. Dar um lugar aos outros é indispensável para que possamos desenvolver a nossa relação existencial. A amabilidade do acolhimento, da abertura, não exclui a personalidade de quem escuta daquele que procura o verdadeiro em meio a múltiplas verdades. Só assim se chega à plenitude do diálogo. É como viver as tarefas do mundo tais como elas se apresentam. A vida é então realizada e confirmada na concretude de cada instante, de cada dia.
A busca da consciência coletiva é uma experiência importante para pôr fim aos conflitos humanos, pois, durante o processo de busca, não procuramos tirar a energia dos outros companheiros. Sempre que alguém sai vencedor, o perdedor fica deprimido, em baixa. Mas se procuramos a consciência coletiva, estaremos então recebendo energia de outra fonte, do Poder Superior.
Na consciência coletiva está contida uma filosofia do diálogo, da relação entre os membros de A.A. Importa uma relação desenvolvida no diálogo, na atitude existencial da face-a-face. Há uma vibração recíproca na face-a-face. O diálogo assim desenvolvido abre novas perspectivas em relação ao sentido da existência humana de cada um dos membros participantes porque está voltado para um novo projeto de existência e não para um passado nostálgico. O processo da busca da consciência coletiva estabelece uma nova relação entre os membros de AA e, numa visão maior, entre os seres humanos.
Se consultada a consciência coletiva, as decisões são realistas?
A ampla participação assegura que a realidade seja conhecida nos seus mais diferentes aspectos, que nenhuma particularidade seja omitida, que nenhuma consequência das decisões a serem tomadas deixe de ser considerada. O estudo resulta sempre completo porque é o resultado da soma de todas as experiências, de todas as visões. Significa que se estuda e se decide com segurança.
Frequentemente, o nosso narcisismo nos faz sentir que somos os guardiões de uma estrutura frágil e ameaçada e que, se não fosse por nós, tudo já estaria perdido. Isso é a manifestação de que algo está errado com a nossa saúde mental e espiritual e que é preciso colocar, lado a lado, a nossa realidade com a que é percebida pelos irmãos em quem confiamos. O fato é que a verdade compartilhada é poderosa e eleva o espírito e é por isso que compartilhamos quando participamos das atividades do grupo ou das que são mais ligadas ao serviço.
Frequentemente a verdade é um processo, o resultado de uma relação entre nós mesmos e os outros, a qual dá à verdade maior clareza e brilho. Precisamos de coragem para ver a verdade, mas ela nos fortalece, e estar dentro da realidade significa não estar alienado. Ocorre uma confiança no diálogo, na busca comum da verdade.
No conjunto, o grupo sempre aprecia melhor porque inclui membros com muitos e diferentes pontos de vista e com a liberdade assegurada de expressá-los por meio do processo que busca a consciência coletiva.
Incorpora-se o claro e o escuro, o sagrado e o profano, a tristeza e a alegria, a glória e a lama e é por essa razão que as decisões são bem elaboradas. Não é provável que se deixe de apreciar algum aspecto importante. Como cada membro representa um padrão de referência e, se eles são muitos, o grupo de trabalho se aproxima mais e mais da realidade. As decisões são realistas e usualmente seguras.
Não ao totalitarismo!
É comum pensar que as diferenças possam sempre ser resolvidas por uma autoridade maior. No passado de cada um de nós, era costumeiro apelar para a intervenção do pai ou da mãe para o entendimento de situações e para a solução de problemas. Procura-se frequentemente até apelar para um ditador benevolente. Mas Alcoólicos Anônimos, em favor da maturidade dos seus membros, nunca pode ser totalitária.
Nós nos acostumamos, ao longo da nossa vida, a aceitar certas formas de autoridade que sempre serviram como orientação para definir a realidade em que vivemos e sem ela nos sentimos confusos e perdidos. Mas a busca da consciência coletiva passa a ser o exercício através do qual sempre, e em grupo, encontramos a orientação, sempre conhecemos de uma maneira mais completa a realidade e, é bom acentuar, sem a necessidade de qualquer autoridade que não a do Poder Superior. No decurso do processo de busca da consciência coletiva acontece o retorno da sensação de segurança, agora sob uma forma mais espiritualizada, a segurança espiritual.
A maneira menos primitiva de se resolverem as diferenças individuais é a de apelar para o que chamamos de democracia. Pelo voto, determina-se o lado que prevalece. A maioria governa. Mas este processo exclui as aspirações da minoria. Pelo contrário, o processo de tomada da consciência coletiva inclui as aspirações da minoria. É como transcender as diferenças pessoais de modo a incluir, na mesma medida, a minoria. Entrar no processo que leva à consciência coletiva é ir além da democracia. Recorrer ao voto não é a solução. Apenas o consenso integra as minorias e, em realidade, até evita a formação delas. O processo pelo qual se chega ao consenso é uma aventura porque não se pode antecipar o que vai resultar, é algo quase místico e mágico, mas que funciona.
Durante o processo de busca da consciência coletiva, a autoridade fica descentralizada. Não há líderes e, ao mesmo tempo, todos são igualmente líderes. Há um verdadeiro “fluxo de liderança”. Os membros se sentem livres para se expressar e para oferecer as suas contribuições e o fazem no seu exato momento e na devida dimensão. Há lideranças. É o espírito de comunidade que lidera e não o individualismo.
O desenvolvimento da Humildade
O processo de busca da consciência coletiva atenua o individualismo áspero que leva à arrogância e isso se faz por meio da limitação da participação, ao evitar preponderância e excessos – a velha prepotência e a conhecida manipulação. O poder individual só é contido, só é limitado, pelo poder coletivo. Este é um princípio fundamental. Isto é exatamente o que acontece no processo de busca da consciência coletiva.
Desenvolve-se, nos membros do grupo de trabalho, um individualismo ameno que leva à humildade. Durante o processo, as dádivas de todos são apreciadas e também reconhecidas as suas próprias limitações e isso está na base da aceitação das nossas próprias imperfeições. “Conhece-te a ti mesmo” é uma regra segura para chegar à humildade.
Nesse momento, fica muito claro que o problema não é a dependência e sim a real interdependência. Não só os membros se tornam mais humildes, mas também o grupo como um todo.
O grupo como um lugar seguro
As pessoas se tornam mais amenas quando participam do processo de busca da consciência coletiva porque se olham através das lentes do respeito. O grupo se torna um lugar seguro porque há aceitação e compreensão, e as pessoas sentem com uma intensidade nova o amor e a confiança. Desarmam-se. Passa a haver a paz e, sobretudo, os membros aprendem a fazer a paz.
É também um lugar seguro porque no grupo ninguém está tentando curar, converter ou mudar o outro e, paradoxalmente, é exatamente por isso que a cura e a conversão acontecem. No grupo, as pessoas são livres para serem elas mesmas, livres para procurar a própria saúde psicológica e espiritual. Tudo isso faz do grupo um lugar seguro em que as pessoas podem abrir mão das suas defesas, das suas máscaras, dos seus disfarces. Aceitamos ser vulneráveis, expor as nossas feridas e fraquezas, e assim fazendo, aprendemos também a ser afetados pelas feridas dos outros. O amor que surge neste compartilhar só é possível porque abrimos mão da norma social de pretender ser invulneráveis.
Num lugar seguro as pessoas se desarmam e aprendem a fazer a paz, que nasce do processo de busca da consciência coletiva.
Um estado de espírito muito especial
Quando nos preparamos psicologicamente para participar de uma reunião de serviço em que se vai à busca da consciência coletiva e nos sujeitamos ao processo que leva a ela, desenvolve-se uma atmosfera tal que, paradoxalmente, nela as pessoas falam mais baixo e, no entanto, são mais ouvidas. Nada é agitado e não se forma o caos.
Pode haver discussão e luta, mas ela é construtiva e move-se em direção do consenso. Em realidade, entra-se no processo de formação de uma verdadeira comunidade.
Esse estado de espírito é indispensável para que se possa estar aberto para a manifestação do Poder Superior. Para a inspiração e para a voz do Espírito Santo.
Quando nos dirigimos para uma reunião de serviço, não podemos imaginar qual será o resultado dos trabalhos nem devemos interferir nele. O processo de formação da consciência coletiva é verdadeiramente um mistério.
O estado de espírito de quem vai para uma reunião de serviço
Quando se vai para uma reunião de serviço, é preciso ter em mente que a intenção, a ideia, é levar tão somente uma contribuição, uma experiência pessoal. É preciso lembrar sempre que o todo é formado pelas partes e que cada um de nós não é senão uma parte, mas uma parte realmente importante. Cabe ainda lembrar que as nossas experiências são tanto o fruto das nossas vivências, e por isso são muito ricas, mas também limitadas à esfera pessoal. Ao mesmo tempo, precisamos ter a consciência do valor da contribuição que podemos dar, mas também de que ela será parte de um todo, de um conjunto maior, que se formará a partir das contribuições de cada um dos presentes à reunião.
O que fica dessas considerações é que a atitude de humildade é indispensável se se deseja chegar à consciência coletiva. É aceitar que, pelo menos diante do fato de se estar frente a uma manifestação do Poder Superior, a prepotência, a arrogância, o narcisismo e a agressividade possam dar lugar à humildade e à aceitação daquilo que irá resultar da soma de todos os conhecimentos e contribuições, mas, sobretudo aceitar que ao final se chegará ao melhor caminho, à melhor solução, à melhor decisão.
O que acontece quando não se busca a consciência coletiva
Muitas coisas podem acontecer. A realidade pode ser distorcida e as conclusões ou decisões podem não ser as mais sábias ou convenientes. Parte dos que compõem o grupo pode ficar excluída dos trabalhos, por ser constituída de membros mais tímidos ou por estarem dominados pelos mais prepotentes, pelos que melhor fazem uso da palavra.
Pode ocorrer que, antes de uma reunião, os componentes do grupo procurem contatar outros membros para lhes convencer acerca das suas pretensões ou postulações ou, simplesmente, conseguir adesões ou fazer acordos. Obviamente a consciência coletiva estará sendo manipulada e aí poderiam os mais doentes chegar ao seu “dia de glória”, pois teriam manipulado até mesmo o Poder Superior. No entanto, nessas condições, a consciência coletiva não se estabelece e Ele não fala. Talvez falem outras vozes menos divinas.
Quando não se busca a consciência coletiva, o que usualmente acontece é correr o sangue emocional e até mesmo o físico. Usualmente a luta se estabelece, mas ela não leva a nada porque é caótica, é barulhenta e não construtiva.
As agressões tornam as reuniões cansativas e os resultados são nulos ou diminutos. As reuniões se tornam tanto desagradáveis quanto improdutivas. É um conflito sem frutos e que vai para lugar nenhum. As pessoas tornam-se prisioneiras das suas raivas, dos seus ressentimentos e das suas ambições pessoais desmesuradas. Outros procuram concertar as cabeças, convencer ou curar os seus companheiros e isso, muitas vezes, pode até parece ser coisa de amor, mas o fato é que fazem isso para o seu próprio conforto, em seu favor.
É fundamental que busquemos a complementação sempre que opiniões diferentes ou contrárias às nossas forem apresentadas. Devemos buscar, nessas situações, o sentido de existir, de ser. Devemos identificar, na existência dos opostos, o sentido da complementaridade. Sempre que nos incompatibilizamos uns com os outros é porque estamos medindo forças e assumindo posições antagônicas. Se buscarmos o sentido do complementar, poderemos reverter o antagonismo e somar as nossas potencialidades em torno de um propósito único. Desse modo, não perdendo o nosso ponto de vista, identificamos um sentido maior que é a grande manifestação da Consciência Coletiva.
A insensatez
Quando não se busca a consciência coletiva, a insensatez se estabelece no grupo. Isto é, ele passa a agir de forma contrária aos seus próprios interesses, de forma contrária à apontada pela razão. Exatamente ao contrário da sabedoria que está no exercício do julgamento atuando com base na experiência e no uso das informações disponíveis.
No caos e na manipulação, buscam-se as atitudes contrárias aos próprios interesses da Irmandade de Alcoólicos Anônimos, não obstante as advertências desesperadas de alguns e da existência de alternativas melhores e viáveis. A busca da insensatez torna-se trágica e, dolorosamente, um comportamento dominante. Dominados pelas paixões, os membros do grupo abandonam o comportamento racional, tornam-se passionais. A mitologia grega tinha uma figura para representar a cegueira da razão, o desvario involuntário, de cujas consequências os companheiros depois se arrependem, chamada Ate, filha de Eris, deusa da discórdia e da disputa. Tomados de cega insensatez, as vítimas da deusa se tornam incapazes de realizar uma escolha racional, de distinguir entre atos morais e imorais.
Onde e como o Céu e a Terra se tocam
O homem, desde tempos imemoriais, vem procurando fazer contato com as forças criadoras, com o sagrado. Procurou lugares e objetos em que o céu e a terra se encontrassem. Concebeu a montanha e a cidade sagradas, a residência real, a árvore da vida e da imortalidade, a fonte da juventude, etc.
De acordo com crenças indianas, o monte Meru seria uma montanha sagrada e sobre ela brilharia a estrela polar. Na crença iraniana, a montanha Elburz seria o ponto em que a terra estava ligada ao céu. A população budista do Laos considera sagrado o monte Zinnalo. No Edda, o Himinbjorg, que quer dizer “montanha celestial”, é considerado o ponto em que o arco-íris alcançaria a parábola do céu.
Para os povos mesopotâmicos, o Zigurate era a montanha cósmica. Na Palestina era o Monte Tabor. Para os cristãos, a montanha cósmica era o Gólgota, o lugar onde Adão tinha sido criado e sepultado e o sangue do Salvador teria sido derramado sobre o crânio de Adão, servindo para a sua redenção. Esta crença ainda permanece entre os cristãos orientais. A cidade da Babilônia, como indica o próprio nome, era tida como a “porta dos deuses”, pois era por meio dela que os deuses desciam para a terra.
A ideia de que o santuário reproduz o Universo, na sua essência, passou para a arquitetura religiosa da Europa cristã e para as basílicas dos primeiros séculos, do mesmo modo que as catedrais medievais reproduziam simbolicamente a “Jerusalém celestial”.
O lugar sagrado, o “Centro”, seria a zona da realidade absoluta e lá estariam os seus símbolos: a árvore da vida e da imortalidade, a fonte da juventude, etc. daí a ideia de que a estrada que leva ao “Centro “é um “caminho difícil”. Difícil também a peregrinação aos lugares sagrados como Meca, Hardwar e Jerusalém, feita em viagens cheias de perigos e realizadas por expedições heroicas. A mesma dificuldade encontra aquele que procura caminhar em direção ao seu ego, ao “Centro “do seu ser. A estrada é árdua e cheia de perigos porque representa um ritual de passagem do âmbito profano para o sagrado, do efêmero e ilusório para a realidade e para a eternidade, da morte para a vida, do homem para a divindade. Chegar ao “Centro “equivale a uma consagração; a existência profana e ilusória dá lugar a uma nova existência, a uma vida real, duradoura. Na busca da consciência coletiva o grupo de trabalho procura chegar ao “Centro”, ao ponto mais elevado.
Eu, pessoalmente, considero que é através do processo de formação da consciência coletiva, após percorrer um caminho muitas vezes árduo e difícil, é que estabelecemos um contato entre o céu e a terra. É por meio do processo de busca da consciência coletiva que o céu e a terra se tocam. A consciência coletiva é a voz do Poder Superior.
O conceito de substancial unanimidade e a ideia da formação de uma verdadeira comunidade centrada na busca da manifestação do Poder Superior está na base de uma nova dimensão de divindade e permitirão que a Irmandade de Alcoólicos Anônimos se aperfeiçoe de maneira progressiva e que, por meio da busca da consciência coletiva, os seus membros conquistem a mais absoluta liberdade espiritual, ficando então livres de preconceitos e de sentimentos negativos em relação aos demais companheiros.